Bajo Flores

Bem, não sei se todos perceberam, mas tenho tentado colocar um post por dia, de segunda a sexta. Porém, ontem não teve nenhum post novo, mas com justificativa.

Quem acompanha o blog desde o começo ou que me conhece, sabe que eu faço pos-graduação em Educação Infantil na UBA (Universidad de Buenos Aires). Comecei em Março do ano passado e acredito que termino na metade do próximo ano, ou seja, mais um ano pela frente. O curso me toma muito tempo, já que tenho 1 seminário por mês e ao final de cada seminário devo entregar um trabalho final entre 6 e 10 folhas. E ainda, para algumas matérias temos que fazer visitas a jardins de infância como uma espécie de trabalho de campo. Ai  já viu, não sobra tempo para quase nada.

Essa semana estive avançando com alguns trabalhos pendentes e por isso, como dizem aqui, "se me complica mucho". Mas mesmo assim, não se pode desistir. Sempre há um tempinho.

Dessa vez quero contar um experiência que tive essa semana e que, de alguma forma, me ajudou a ver como, de um modo geral, os problemas de pobreza e de desigualdade social se repetem nos países vizinhos.

Estoy cursando uma matéria chamada "Organizaciones escolares y comunitarias para la primera infancia", e há a exigência de um trabalho prático que consiste em visitar uma das instituições que a professora nos apresenta como opção e escrever um informe sobre o que foi observado.

Então, eu e Carolina (que aqui chamamos de Caro), uma amiga da faculdade, fomos ao "Jardín Popular Comunitario 'Luces en el bajo". Pegamos o 44 e descemos entre as avenidas "Cobo" e "Curapaligüe". Esperamos em frente à farmácia e foram nos buscar até chegar ao jardim. O mesmo fica no segundo andar de uma casa dentro da "villa 11-14". É um projeto do Movimento Popular "La Dignidad", de cunho político, que visa a assistência das crianças da região. O Movimento possui, além deste, mais 3 jardins dentro da cidade de Buenos Aires. Eles têm um convênio com o governo da cidade que se responsabiliza pelo salário dos docentes e da merenda. Todas as outras coisas são de responsabilidade do Movimento.


Realmente a situação do jardim é precária pela falta de recursos, mas mesmo assim, os docentes, que escolhem trabalhar em projetos sociais como este, se empenham para garantir educação de qualidade às crianças que ali estudam. Para nós, estudantes de pós, foi interessante ter contato com esta outra realidade, pois sempre discutimos as dificuldades que a escola enfrenta hoje, mesmo as de referência, e a partir daí vemos outras problemáticas que acometem as instituições que se encontram em outros contextos.


Em relação ao lugar, entrevistando o coordenador do jardim, descobrimos que quase 70% dos que vivem nessa favela são bolivianos, provavelmente uns 20% são peruanos, enquanto os demais seriam paraguaios e argentinos. Em relação a isso, a Argentina é bastante aberta à chegada de imigrantes e não é muito difícil, por causa dos acordos do Mercosul, conseguir a residência. Porém, é muito difícil absorver essa quantidade de mão-de-obra sem qualificação e o resultado é um aumento de fábricas clandestinas com trabalho totalmente precarizado. E é basicamente desses trabalhos clandestinos, principalmente na indústria têxtil, que vivem essas famílias de imigrantes.

Em relação à favela em si, vemos a semelhança das favelas planas, por exemplo, do Rio. Muitas casas com vários andares, sem emboço ou qualquer tipo de acabamento e ruas que se transformam em vielas, acesso precário à saúde e educação e pouca ação do Estado. Muito parecido com o que vemos por aí, com uma diferença: a maioria da população que ali habita não é argentina.

Deixo um link com uma reportagem sobre falta de luz nessa região. A última senhora que fala sobre a situação é uma das funcionárias do jardim.

http://www.youtube.com/watch?v=yti6bkC4uYQ

Bem, Buenos Aires não é só a cidade com seus lindos pontos turísticos. A desigualde está ali, em cada cantinho dessa cidade, tal como de qualquer outra da América Latina, esperando, sempre esperando, muito mais que um olhar, uma ação!

Besos.




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